Charlie Watts, 70 anos
Charlie Robert Watts concluiu os estudos na Harrow Art School em 1960 e arrumou emprego numa agência de publicidade, reservando uma ou duas noites por semana para tocar bateria em conjuntos da capital inglesa, o que ele fazia como hobby de um apaixonado pelo jazz.
Sua reputação logo se espalhou, e em 1962 foi convocado para a banda de Alexis Korner, a Blues Incorporated, berço de muitos blueseiros do reino. Mas tornou-se difícil conciliar música e trabalho, e ele, tendo que optar, largou a banda e ficou com o salário da agência. Deixara porém uma forte impressão nuns cabeludos que vinham observando sua performance e pediam que ele assumisse em tempo integral as baquetas de uma bandinha de rhythm and blues.
“Eles eram um bando de malucos que viviam tocando se ganhar um tostão. Mas eu gostava do espírito da banda, daquele jeito deles. E eu já estava totalmente envolvido com o rhythm and blues. Ainda que fosse uma coisa incerta, resolvi correr o risco e fui tocar com eles”. E então Charlie Watts dava o primeiro passo na trilha que o elevaria ao zênite do rock na companhia daquele bando de malucos – os Rolling Stones.
Ainda me lembro de como achei curioso ver aquele senhor exercendo sua profissão. Era 4 de fevereiro de 1995, um domingo. Eu, um menino de 10 anos. Ele, passando dos 50. Um velho, portanto. A Globo exibiria ao vivo o segundo show dos Stones no Rio, turnê do disco Voodoo Lounge, com o qual a banda veio ao Brasil pela primeira vez, gerando a natural excitação. Eu intuía que algo de grandioso aconteceria. Liguei a TV e esperei para ver e crer.
O Maracanã lotado urrava de ânsia quando surgiram os primeiros batuques da bateria. Mick Jagger entrou pavoneando-se e o show começou com Not Fade Away. Depois do cantor e dos guitarristas, a câmera mostrou Charlie. Ele não tinha nada do que se imagina de um baterista de rock. Não fazia caretas nem parecia se esforçar. Mantinha uma postura elegante. Vestia uma roupa normalíssima. Era o único da banda com cabelo branco, e segurava a baqueta esquerda de um jeito peculiar, perpendicular ao antebraço, à moda dos bateristas de jazz.
Ele completou 70 anos na semana passada e ainda está tocando, bem como sempre. Muita coisa já foi dita em louvor a esse senhor discreto, dono de um extraordinário senso de ritmo e gradação, casado com a mesma mulher há 47 anos, criador de cavalos, sempre trajando ternos bem cortados, e que depois de tanta estrada ainda fica encabulado quando o cantor o apresenta ao público. Mick Jagger e Keith Richards já testificaram: sem Charlie Watts não haveria Rolling Stones. É a verdade pura e simples, e dá a medida da nossa gratidão.
Observe o mestre:
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